Há uma semana uma notícia chamou a atenção dentre incontáveis publicações sobre economia, negócios, finanças pessoais, todas recheadas de palavras que quase nada dizem a respeito de quem está na base da pirâmide social. Já vou a ela.
A fome, que em tempos pandêmicos assola com mais dor os desafortunados do capitalismo, há tempos vem ganhando espaço midiático para escancarar um mal que não se descola da humanidade desde que gente é gente. Sai era, entra era, e o faminto, aquela pessoa que nada, ou quase nada, tem para alimentar suas células mais vitais a fim de manter minimamente o metabolismo em funcionamento, persiste. Se não fossem ações sociais de entidades organizadas da sociedade civil, o apoio de organismos internacionais, a fala de personalidades mundiais, o amparo e o voluntarismo de instituições religiosas, as políticas de governos comprometidos com a causa maior de garantir alimentação ao povo e um quê de sorte a cada dia, o número já quase bilionário de esfomeados atingiria proporções sem adjetivação digna. Mas trágico mesmo é apenas uma pessoa sem ter o que comer, um dia que seja.
Do outro lado da moeda, outro tipo de bilhão, que alimenta uma espécie de ‘guerra fria’ e seu arsenal de zeros depois da vírgula entre poucos afortunados vindos do mesmo capitalismo. Dia desses saiu no noticiário que um bilionário francês deste seleto grupo havia desbancado o até então homem mais rico do planeta (segundo a revista Forbes). Em pouco mais de 24, talvez 48 horas, houve uma reversão no placar (ufa!), e o norte americano, humilhado pelo segundo lugar, deu a volta por cima com a ajuda de seus papeis no mercado de ações, para alívio, necessidade ou mesmo mera curiosidade de todos. O Google dará aos curiosos os respectivos nomes e sobrenomes, seus impérios empresariais e valores em dólares que cada um tem para si, a fim de garantir o pão de cada dia. A diferença entre os dois, nestes quase dois dias, girou em cerca de 1 bilhão de dólares. Eu disse apenas a diferença.
Vaidade exacerbada a ser analisada pela psicanálise? Exemplos, ou melhor, ‘cases’ a serem seguidos nas redes sociais e estudados a fundo nas faculdades de economia?
O que nos desperta ou nos faz querer saber que sultões e engravatados do oriente ou ocidente nadam em dinheiro? Comparações com nossos boletos (quem os ainda têm)? Trajetórias de vida de posses materiais impensáveis? O que não faltam são perguntas, e nem as tenho em toda sua complexidade em se tratando de acúmulo de capital acima do razoável, pressuponho.
Uma questão se sobressai. Qual seria a renda per capita (para cada indivíduo vivo no globo neste momento) caso todos os bilionários resolvessem fazer uma distribuição da bufunfa entre as 7 bilhões de pessoas restantes fora do anel de ouro?
Nada de entrar aqui em meritocracia, sistema capitalista ou socialista, meios de produção, Marx, mais valia, Smith, fetichismo da mercadoria, filantropia, mercado, acesso, misérias, mobilidade social, fortunas, índice de Gini, até porque necessitaria escalar um time de especialistas de cada tópico para o debate.
O que de fato chama a nossa atenção é que produzimos e compramos muito mais do que necessitamos, gastamos além do que podemos, desperdiçamos recursos das mais variadas ordens e grandezas, esticamos o limite de tempo de vida na Terra e não temos a mesma energia, para além do bem e do mal, acabar com o flagelo da fome, que gera indigência, causa dano psíquico e enche de dor o estômago vazio de crianças e adultos.
Releiamos O Quinze, de Rachel de Queiróz, e/ou Vidas Secas, de Graciliano Ramos, ambos da década de 1930, e olhemos para os plásticos, os papelões, as carroças, os cabelos sujos, as poucas e puídas roupas, as baratas, escorpiões e ratos atestando nas calçadas e na terra batida dos barracos em ocupações o que não mais deveria ser visto por aí em tempos de recordes de colheita por hectare e helicóptero milionário em Marte. Deixo absolutamente claro que nada tenho contra sair da bolha para buscar sinas de vida a milhões de quilômetros daqui. A ciência, no campo e no espaço sideral, deve estar a serviço da compreensão de quem somos e o que podemos fazer para melhorar nossa vida por meio de seu avanço e implementação.
Sem mais, Bill Gates e Warren Buffer criaram o programa The Giving Pledge a fim de incentivar bilionários mundo afora a destinarem ao menos 50% de suas fortunas para a filantropia.
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