Feminicídio na pandemia: 'a casa é o lugar mais perigoso para mulheres'

Violência de gênero aumenta no isolamento social
Violência de gênero aumenta no isolamento social Isabela Naiara - 08.mar.2020/Photo Press/Folhapress

A pandemia intensifica a violência de gênero e demonstra que a casa é o lugar mais perigoso para mulheres e meninas. Essa é a análise da coordenadora institucional do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Juliana Martins. A entidade divulgou nesta segunda-feira (1º) uma pesquisa que apontou um crescimento de 22,2% em casos de feminicídio nos meses de março e abril desse ano em comparação ao mesmo período de 2019. 

"A violência de gênero vem aumentando desde antes da pandemia. Tanto essa edição da pesquisa, quanto a anterior demonstram que o número de registros que dependem da presença da mulher nas delegacias caíram", afirma a especialista. 

Segundo a pesquisadora, a casa é um dos lugares mais perigosos para mulheres e meninas. "Isso torna a situação de violência algo muito complexo, a mulher tem muitas dúvidas sobre denunciar ou não." Em relação ao caso de meninas, Juliana lembra que outro levantamento do Fórum apontou que mais de 50% das vítimas de violência sexual têm 13 anos e que a maioria dos agressores é conhecida dos familiares. 

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Ao olhar para o momento da pandemia, Juliana afirma que é importante lembrar que a mulher está confinada com o agressor, o que impõe uma série dificuldades. "Além dos riscos do confinamento, há uma precariedade financeira, o fato de que muitas têm filhos com o agressor. Assim, é uma mistura de sentimentos que as fazem denunciar ou querer voltar atrás."

A pesquisadora ressalta que os boletins de ocorrência indicam casos em investigação, ou seja, quando a autoridade policial já registrou oficialmente como feminicídio. Segundo ela, após o encerramento dos inquéritos, o número de mulheres mortas por serem mulheres pode ser ainda maior. "Há casos de homicídios que podem terminar como feminicídio. Trata-se de um crime cultural."

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Além da vulnerabilidade financeira e de uma possível perda de renda por parte das mulheres neste contexto pandêmico, não raro, elas perdem parte da rede de apoio. "Elas não estão saindo ou tendo contato com amigos e familiares, pessoas que poderiam enxergar os problemas e conflitos que estão enfrentando."

Para frear ou diminuir esses índices, uma medida importante seria o fortalecimento dessa rede de proteção. "Dependendo da situação, elas não confiam nessas autoridades policiais", afirma a coordenadora.

Assim, uma segunda medida seria a melhora do trabalho das polícias. Pesquisas apontam que a violência doméstica, brigas entre casal, estão entre os motivos que mais demandam a presença de policiais. "Mas, em alguns casos, eles se sentem frustrados quando a mulher desiste da denúncia", diz a especialista. "Os próprios policiais têm que compreender a importância de se fazer o registro e deste trabalho."

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Em relação à ferramenta eletrônica, implementada por alguns estados para fazer o boltim de ocorrência, a pesquisadora afirmou que ainda não é possível saber o impacto desse canal. "Muitas mulheres não tem acesso ou facilidade com a internet. Não é uma possibilidade em muitos casos."

"A pandemia joga luz num problema muito grande e que não registrou queda. Quem estava na ponta da linha, antes da pandemia, está empenhado em buscar soluções. Mas é importante ir além e falar sobre igualdade de gênero nas escolas, nas relações."

O femínicídio, diz a pesquisadora, é a expressão mais cruel dessa violência, que expõe relações de poder em jogo. "É preciso buscar meios de registrar essas ocorrências."

A pesquisa destacou estados que registraram aumento nos registros de violência contra a mulher, como Acre, Maranhão e Mato Grosso e outros que tiveram dimunição nos números, como Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Segundo a pesquisadora, ainda não é possível saber quais motivos estão puxando os números nesses estados. Porém, ela afirma que alguns têm adotado uma visão de gênero no momento de conduzir as investigações. 



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