Leio na coluna de Cosme Rimoli, que no século passado foi meu colega no Estadão e agora é aqui no R7, que Renato Gaúcho soltou os cachorros contra jornalistas que andam criticando o comportamento fora dos gramados de dois jogadores do Grêmio, Thiago Neves e Diego Souza.
Gosto de futebol, mas não tenho gabarito para dar palpite. Como dizem meus filhos, sou “bugado” nesse assunto. Vou entrar na discussão porque ela diz respeito, principalmente, aos limites da imprensa e da privacidade.
Gaúcho acredita que publicar notícias ou fazer comentários em programas de televisão sobre as farras de que jogadores participam não vem ao caso. É invasão de privacidade, afeta a paz no vestiário e a vida familiar do atleta. Coisa de jornalista recalcado, como disse o treinador, com a conhecida elegância.
Antes de chegar à imprensa, vamos combinar que celebridades (e jogador de futebol sem dúvida é celebridade) que se jogam na balada achando que não correm risco de exposição estão bêbadas, antes mesmo de começarem a beber. Na era das redes sociais, ninguém está seguro. Estão todos permanentemente sob a vigilância de um olho gigante. O famoso não deve atribuir ao mundo a culpa pelas consequências do seu descuido ou ingenuidade.
Falando da imprensa, é certo criticar um jogador pelo seu estilo de vida? É claro que sim. Não apenas porque quem vive em público já abriu mão de uma fatia de sua privacidade. Farrear, dormir tarde, encher a cara, usar estimulantes - tudo isso faz diferença para um atleta. E se ele não rende o esperado em campo, é absolutamente legítimo para um jornalista esportivo tratar a esbórnia como uma das possíveis causas.
O compromisso do jornalista é sempre com seus leitores ou espectadores. Nesse grupo estão, entre muitos outros, pessoas a quem a informação pode interessar diretamente: a diretoria do clube, que talvez tenha comprado gato por lebre; patrocinadores; crianças e pais de crianças que podem considerar o jogador um ídolo, um modelo.
Esses interesses legitimam a discussão sobre o comportamento dos jogadores do Grêmio. Renato Gaúcho pode esbravejar. Como já disse o Cosme Rímoli, ele está errado.
* Carlos Graieb é jornalista e consultor. Foi secretário de comunicação do Governo do Estado de São Paulo (2017-2018)
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