A escolha de Regina: dirigismo ou não?

Só será possível julgar Regina Duarte no cargo após suas decisões
Só será possível julgar Regina Duarte no cargo após suas decisões Estadão Conteúdo/Alex Silva - 25/10/2018

Escrevi mais cedo sobre a coragem de Regina Duarte, que deixou a paz de uma carreira consagrada para cair no circo de gladiadores da política.

Sobre o que esperar da Cultura sob a nova secretária, os sinais são um pouco confusos. Ela já reproduziu patacoadas sobre marxismo cultural nas suas redes sociais. Mas, numa das reuniões antes de aceitar o convite de Bolsonaro, também interrompeu o falatório de alguém para lembrar que era atriz e não iria abraçar nenhum tipo de censura.

Maitê Proença defendeu a escolha de Regina Duarte na internet. Se Maitê está otimista, não vou discordar.

Não morro de amores por leis de incentivo cultural. Num mundo ideal, acho que dinheiro público deveria ser gasto apenas para sustentar os chamados “equipamentos”: museus, monumentos, bibliotecas, arquivos públicos. Obras individuais, sejam livros, shows ou filmes, que se financiem sozinhas, pela lógica do mercado. Mas reconheço que as leis de incentivo fortaleceram a economia da cultura que existe hoje no Brasil, onde há empregos e circula uma grana respeitável. As leis ajudam a criar as condições para que um dia, quem sabe, elas venham a ser revogadas.

O modelo de incentivo que existe no Brasil não foi desenhado para favorecer correntes ideológicas. Já financiou filme sobre Bruna Surfistinha e sobre a ascensão de Bolsonaro. É assim que tem que ser. Nesse modelo, o governo só autoriza produtores a captar dinheiro. Quem escolhe o que patrocinar são as empresas.

Tem gente no governo Bolsonaro que prefere uma política de prêmios culturais, em que o governo escolhe obras e dá o dinheiro diretamente. É um modelo que se presta muito mais à pecha de dirigismo cultural pelo Estado. Ainda que os júris responsáveis pelos prêmios sejam muito qualificados e transparentes, sempre vai pairar sobre eles a nuvenzinha cinzenta da dúvida.

A meu ver, essa é a primeira grande questão que Regina Duarte precisa enfrentar na Cultura: qual modelo privilegiar? Com base nisso será possível julgá-la. A menos, sei lá, que ela se vista de viúva Porcina para o seu primeiro pronunciamento.

* Carlos Graieb é jornalista e consultor. Foi secretário de comunicação do Governo do Estado de São Paulo (2017-2018)



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