Inpe: estudo preliminar fez ministro mudar sistema de monitoramento

Dados negativos irritaram Bolsonaro e Salles
Dados negativos irritaram Bolsonaro e Salles MATEUS BONOMI/AGIF/ESTADÃO CONTEÚDO

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) afirmou em comunicado à imprensa na noite desta quinta-feira (1º) não concordar com as declarações do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que determinou a mudança no método de monitoramento de desmatamento da Amazônia alegando falhas no sistema utilizado pelo órgão. "O Inpe reafirma sua confiança na qualidade dos dados produzidos pelo (sistema) Deter. Os alertas são produzidos seguindo metodologia amplamente divulgada e consistentemente aplicada desde 2004", escreveu o instituto.

O anúncio do ministro se deu após pressão da Presidência da República. Bolsonaro, inicialmente, foi contra a divulgação de dados negativos (o desmatamento da Amazônia cresceu 88% em junho) porque, segundo ele, anunciá-los prejudica o país em negociações internacionais. Depois, afirmou, com o apoio de Ricardo Salles, titular da pasta ambiental, que as informações estavam erradas.

O instituto, que diz que seu trabalho sempre foi "norteado pelos princípios de excelência, transparência e honestidade científica", não aceitou a desvalorização do sistema Deter e deixou claro isso no comunicado. "É amplamente sabido que ela (a metodologia) contribuiu para a redução do desmatamento na região amazônica, quando utilizada em conjunto com ações de fiscalização." 

O órgão também explicou que um único estudo, do qual não teve acesso prévio, indicou as supostas "inconsistências e erros". A análise negativa teria sido feita pelo diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Olivaldi Azevedo, levando em conta "parte dos dados de alertas gerados no Deter no mês de junho de 2019". 

O Inpe afirmou que, além de não ter tido conhecimento da análise anteriormente, seus representantes responderam a todas as questões apontadas durante a apresentação e explicação da metologia em uma reunião quarta-feira (31) no auditório do ministério do Meio Ambiente com a presença de Salles e do ministro Marcos Pontes, de Ciência, Tecnologia, Informações e Comunicações.

Diz a nota que o instituto solicitou ao ministério do Meio Ambiente acesso à tal análise. "De antemão, o Inpe avalia que o estudo apresentado corrobora a metodologia do Deter, pois os alertas de desmatamento mostrados se tratavam de fato de áreas desmatadas. Qualquer comparação dos resultados do Deter com resultados de metodologias ou imagens distintas deve ser aprofundada, e requer uma avaliação mais completa."

Salles reconheceu nesta quinta-feira que o desmatamento da Amazônia tem aumentado nos últimos anos, mas afirmou que a alta de 88% em junho não é verdadeira, embora não tenha estimado qual percentual seria o correto. O novo sistema, de acordo com o ministro, terá imagens de satélite em alta resolução feitas em tempo real e sem o que identificou como "lapso temporal" no atual modelo utilizado.

O Inpe garantiu não ser contra mudanças, desde que elas cumpram ritos e processos claros. "A busca pelo aperfeiçoamento e pela melhoria constante da qualidade de seu trabalho também são componentes fundamentais de sua cultura técnica e científica", finalizou o comunicado.

Leia o comunicado na integra:

O INPE presta esclarecimentos sobre as recentes notícias relativas aos dados gerados no projeto Desmatamento em Tempo Real (DETER) desenvolvido no âmbito de seu Programa de Monitoramento da Amazônia e Demais Biomas (PAMZ+).

O diretor substituto, Petrônio Souza, o coordenador do PAMZ+, Cláudio Almeida, e a coordenadora de Observação da Terra do INPE, Lubia Vinhas, atenderam a convocação do MCTIC para participar de duas reuniões técnicas em Brasília, no dia 31/07/2019, a fim de apresentar a metodologia e os resultados dos projetos do PAMZ+.

Uma primeira reunião aconteceu nas dependências do Ministério de Ciência, Tecnologia, Informações e Comunicações (MCTIC), com a presença do ministro Marcos Pontes, do seu Secretário Executivo, Julio Semeghini, e de outros representantes do ministério. Parte da reunião também foi acompanhada pelo ministro do Meio Ambiente (MMA) Ricardo Salles. Nessa reunião a equipe do INPE apresentou a metodologia e os resultados do DETER e, também, dos projetos PRODES e TerraClass, e respondeu a todas as dúvidas apresentadas.

Uma segunda reunião aconteceu no auditório do MMA com a presença novamente dos dois ministros e de outras autoridades. Nessa reunião, o diretor de Proteção Ambiental do IBAMA, Olivaldi Azevedo, fez uma apresentação sobre um estudo que analisava parte dos dados de alertas gerados no DETER no mês de junho de 2019. O estudo indicou "inconsistências e erros" nos dados do DETER.

O INPE esclarece que não teve acesso prévio a essa análise e que seus representantes responderam a todas as questões apontadas durante a apresentação. Para uma análise completa, o INPE solicitou ao MMA acesso ao referido estudo. De antemão, o INPE avalia que o estudo apresentado corrobora a metodologia do DETER, pois os alertas de desmatamento mostrados se tratavam de fato de áreas desmatadas.

Qualquer comparação dos resultados do DETER com resultados de metodologias ou imagens distintas deve ser aprofundada, e requer uma avaliação mais completa.
A coletiva de imprensa que se seguiu após encerrada a reunião foi exclusivamente com o ministro Ricardo Salles.

O INPE reafirma sua confiança na qualidade dos dados produzidos pelo DETER. Os alertas são produzidos seguindo metodologia amplamente divulgada e consistentemente aplicada desde 2004. É amplamente sabido que ela contribuiu para a redução do desmatamento na região amazônica, quando utilizada em conjunto com ações de fiscalização.

O trabalho do INPE sempre foi norteado pelos princípios de excelência, transparência e honestidade científica. A busca pelo aperfeiçoamento e pela melhoria constante da qualidade de seu trabalho também são componentes fundamentais de sua cultura técnica e científica. 



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